Páginas

Homem, Morte e Deus

À algum tempo atrás, através de uma conversa com uns recém conhecidos, é-me revelado um novo argumento contra a existência de Deus.

Uma rapariga, que frequentava o curso de psicologia, expõe a ideia de que Deus é simplesmente uma criação do ser humano (cliché!). Segundo ela, nas aulas de antropologia, o professor refere que a ideia humana de um ser superior deve-se ao facto do seu medo perante a morte. Para ela este simples argumento bastava para refutar completamente a existência de Deus.

Instantaneamente manifesta-se em mim o meu cepticismo “biológico”. Eu, que procuro constantemente um significado para a existência humana, que não a consigo ver como mero fruto do acaso, sinto o argumento admoestar-me. Deixou-me também confuso, o facto dela aceitar plenamente o argumento do professor, sem sequer o tentar refutar. Acreditando eu e tendo fé de que qualquer argumento pode ser refutado, senti-me impelido a contra-argumentar.

Parei por momentos a conversa. Meu cérebro inicia a um conjunto desenfreado de argumentos e contra argumentos e instintivamente apercebo-me de uma lacuna. Imaginemos pois, que este ser omnipresente, omnisciente, omnitemporal e omniespacial, implementa no percurso da nossa existência a morte, com intenção de fazer com que o ser humano o pense, o procure e o descubra. Assim refuto.

Ora ai está! Desde que se parta da premissa de que Deus surge primeiro é possível refutar o argumento apresentado por ela. Infelizmente, ou felizmente o “efeito bola de neve” surge e novas questões pertinentes entram aos tropeções. Se efectivamente existe um ser superior, porque é que se serve do nosso medo para se revelar? Será que nos criou? E porque nos criou assim? Será mesmo preciso ser assim para o descobrirmos? Qual a sua intenção?

Talvez por isso seja mais fácil não acreditar em algo superior e consciente. Independentemente de tudo, sei que para mim é, efectivamente, mais fácil continuar a questionar e a procurar.