Páginas

A Incongruência do Apocalipse

Hoje decido abordar a visão cristã do apocalipse. Este tema surge da minha descrença em relação à visão mitológica e supersticiosa dos dias do fim. Diabo, dragão, anjos, cavaleiros, morte, doença, batalhas, entre outras coisas, fazem parte desta história. Sendo assim, não consigo leva-la à letra. Em segundo lugar, mesmo que observe esta fantasia através de um sentido metafórico, não pude deixar de descobrir uma incoerência no processo de escolha e julgamento de deus.

O apocalipse é uma história longa, em que nos é narrado o aparecimento do anticristo, o aparecimento dos cavaleiros, a ressurreição dos mortos, etc., mas para mim todo ele se resume ao julgamento final. Todo o processo anterior tem como meta final e apogeu o julgamento de deus.

Ora, é ai nesse desfecho que deus divide os seres humanos segundo as suas obras e segundo a sua vontade. Ele detém a última palavra condenando quem foi pecador e dando vida eterna a quem praticou condignamente os seus mandamentos.

O que eu gostaria de saber é porque é que deus age segundo parâmetros humanos baixos e moralmente incorrectos? Porque é que deus condena uns ao eterno sofrimento e outros à salvação eterna? Não será esta uma atitude precipitada e errónea, sendo já praticada pelos seres humanos quando condenam outros?

Reparem, tal como a religião possui leis que visam construir o homem para que este se salve e construa o paraíso na terra, também a sociedade determina leis e regulamentos que têm como objectivo organizar e manter a ordem, com o objectivo de que levemos uma vida justa e boa. Alguém que vá contra essas leis é automaticamente excluído da sociedade. Coloca-se esse indivíduo numa prisão, sem direito a tratamentos psicológicos ou a educação social. Muitas vezes encarcerados em condições deploráveis. Estes homens e mulheres condenam-se a eles mesmos, pois já sabiam o que os esperava, e nós reforçamos ainda mais a sua desgraça.

Felizmente que hoje em dia, nas sociedades mais conscientes civicamente, se tenta implementar uma sistema prisional que visa a educação, consciencialização e ajuda das pessoas que se deslocam da realidade. Vem-me à cabeça o exemplo do sistema prisional da Austrália.

Enfim, se o ser humano já se começa a aperceber que é imoral condenar e excluir sem tentar salvar, porque é que deus não se apercebe?Ele está para alem do espaço e do tempo, ele que é infinito no amor, porque é que condena e deixa os seres humanos se condenarem? Porque é que não lhes dá uma, duas, três, infinitas oportunidades?Não se apercebe ele que o seu julgamento é incorrecto e a sua atitude imoral. Que este julgamento se torna, hoje em dia, tão reprovável como o julgamento da nossa sociedade?

Será que deus se encontra assim tão para além do moral e do imoral? Se ele está, graças a deus que nós não.

Homem, Morte e Deus

À algum tempo atrás, através de uma conversa com uns recém conhecidos, é-me revelado um novo argumento contra a existência de Deus.

Uma rapariga, que frequentava o curso de psicologia, expõe a ideia de que Deus é simplesmente uma criação do ser humano (cliché!). Segundo ela, nas aulas de antropologia, o professor refere que a ideia humana de um ser superior deve-se ao facto do seu medo perante a morte. Para ela este simples argumento bastava para refutar completamente a existência de Deus.

Instantaneamente manifesta-se em mim o meu cepticismo “biológico”. Eu, que procuro constantemente um significado para a existência humana, que não a consigo ver como mero fruto do acaso, sinto o argumento admoestar-me. Deixou-me também confuso, o facto dela aceitar plenamente o argumento do professor, sem sequer o tentar refutar. Acreditando eu e tendo fé de que qualquer argumento pode ser refutado, senti-me impelido a contra-argumentar.

Parei por momentos a conversa. Meu cérebro inicia a um conjunto desenfreado de argumentos e contra argumentos e instintivamente apercebo-me de uma lacuna. Imaginemos pois, que este ser omnipresente, omnisciente, omnitemporal e omniespacial, implementa no percurso da nossa existência a morte, com intenção de fazer com que o ser humano o pense, o procure e o descubra. Assim refuto.

Ora ai está! Desde que se parta da premissa de que Deus surge primeiro é possível refutar o argumento apresentado por ela. Infelizmente, ou felizmente o “efeito bola de neve” surge e novas questões pertinentes entram aos tropeções. Se efectivamente existe um ser superior, porque é que se serve do nosso medo para se revelar? Será que nos criou? E porque nos criou assim? Será mesmo preciso ser assim para o descobrirmos? Qual a sua intenção?

Talvez por isso seja mais fácil não acreditar em algo superior e consciente. Independentemente de tudo, sei que para mim é, efectivamente, mais fácil continuar a questionar e a procurar.

Egoísmo ou altruísmo.

Qual deverá ser a nossa motivação?
Como motivação mais básica o ser humano pretende parar a dor.
Da dor surgem as expressões sofrer e sofrimento.
É natural e intrínseco do ser humano a afirmação “a minha motivação é parar de sofrer”.
Esta é uma afirmação egoísta com vista à concretização momentânea do desejo e satisfação do “Eu” sem olhar à satisfação e bem-estar dos outros seres humanos.
Que aconteceria se trocássemos a afirmação citada anteriormente por esta “a minha motivação é parar com o sofrimento”.
São estas duas afirmações naturais ou constroem-se na nossa mente por etapas?
Qual é a motivação primordial do ser humano? E porquê?