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Impressões II

Toda a gente se parece com toda a gente. Sinto que isto não é só o meu pensamento estereotipador a actuar, é muito mais que isso. As pessoas estereotipam-se a si mesmas. Facto inegável é a nossa adopção (consciente ou inconsciente) de estilos idênticos aos do grupo com o qual nos identificamos: a fala; o andar; o vestir; entre muitos outros.

Incomoda-me e angustia-me, o facto de, eu não querer estereotipar e não conseguir. Sinto que, por todos quererem ser identificados com algo, e mesmo os que não têm essa intenção inevitavelmente o serem, a minha mente é forçada a estereotipar.

Por isso, ao andar pela cidade de Lisboa olho para todas as pessoas como se apontasse o dedo, classificando-as: pobre; rico; extremamente pobre; novo-rico; classe alta; classe baixa; trabalhador; sem noção; porco; beto; beta; meninos da mamã; convencido; convencida; arrogante; infeliz; cansado; bem-disposto; divertido; “top model”; snob; estrangeiro; indiano; italiano; africano; lisboeta; nortenho; “guna” (chunga); “dondoca”; homossexual; empresário; empresária; “macho men”; empreiteiro; trolha; desconfiado; inteligente; confiante; “hip hoper”; confiante; simpático; humilde; secretária; intelectual; cota; manipulador; passivo; defensivo; tóxico dependente; alcoólico; VIP; azeiteiro; até personagens da televisão (Chuck Norris, Sylvester Stallone, Arnold Schwarzenegger, Britney Spears, Angelina Jolie, etc); e mais todos os outros estereótipos imagináveis.

É isto que muitas vezes se passa na minha cabeça, quando caminho pelas ruas, ou quando ando no autocarro ou metro de Lisboa. A dimensão populacional é tão vasta que cria novos grupos e aumenta os grupos já existentes, isto torna impossível ninguém se parecer com ninguém.

Sendo assim, deixo-me influenciar pela dimensão, pela mensagem que as pessoas através do aspecto querem transmitir e pela imagem que muitos não conseguem evitar, logo rotulo. Tento ver para além das evidências, mas não consigo. È como se a imagem barrasse a minha percepção ao ser humano que existe por detrás dela. Mesmo assim, essa é uma característica da qual eu não me esqueço. Que aquele à minha frente é um humano como eu, com os seus dramas, pensamentos, alegrias e tristezas.

Ao chegar a casa dou por mim a identificar-me como um ser humano, por isso penso: E eu? Com quem me pareço?