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Fatura?...

Por vezes é impossível contornar o mal. Evitar o erro dos outros. Que um amigo esmurre a cabeça na parede. Quantas vezes já avisei: Não vás por ai, não adiantando de nada. Quantas vezes já me avisaram: Por ai vais-te enterrar, mesmo assim, lá fui eu para o auto-enterro. Faz parte da vida, do crescimento, ou do que lhe queiram chamar.

No entanto, quando falo desta incapacidade para reverter o mal dos outros, estou a falar do mal por mal, do erro consciente, deliberado e propositado. Não no erro da inocência, como quando uma criança mete a mão no fogo, por não saber que queima. O que pretendo falar é sobre outra coisa e sobre as implicações reais desse comportamento nato. Para isso, dar-vos-ei um exemplo pessoal.

Desde tenra idade fui um aluno medíocre, preguiçoso e pouco maduro para poder atingir certas matérias. Como resultado as negativas sempre se acumularam. Passei sempre de ano com duas ou três negativas. A português, a matemática e a inglês era um “0-“ (zero à esquerda). E isto desde a quarta classe.

Lembro-me perfeitamente das minhas primeiras negas, minha mãe ficou tão desiludida que me deu um enxerto de porrada. Ok, até pode não ter sido um “enxerto”, mas como qualquer criança com 9 anos de idade maximizei o acontecimento. Por isso, o pouco pareceu muito.

A partir dai, sempre que apresentava uma negativa, minha mãe gritava, berrava, ralhava e eu ganhava umas bofetadas. Independentemente disto, continuava a minha má progressão escolar. Apesar da minha mãe, pelo reforço negativo, me tentar fazer bom aluno, não conseguiu. Aliás, a certa altura comecei a mentir sobre os testes e a esconde-los. Ou seja, a situação piorou.

Cá está, o ponto fulcral do que quero transmitir. Eu, mesmo sabendo que fazia mal em mentir, preferia-o em vez das estaladas. E, por mais que alguém me viesse dizer para não mentir, continuaria na mesma. Faz parte da natureza humana, escolher uma desprazer menor para evitar um desprazer maior. Levando o exemplo ao extremo, é matar para não ser morto.

Chegando onde quero, à política. Imaginem o governo como a minha mãe e o povo como eu. O governo bate nos contribuintes, aumenta os impostos, corta suicídios, corta aqui, corta ali. Famílias desempregadas, dividas acumuladas, empresas fecham, ordenado diminui, preços aumentam. Ainda por cima, a maioria dos contribuintes sente que não mereceu por tal estalada. Então, o que é que o povo (como eu quando criança) faz? Exatamente, mentir e esconder.

Por isso, senhores políticos, bem-vindos à corrupção que tentaram diminuir, ao trabalho clandestino, à obscuridade. Se é com fatura ou sem fatura, já não será preciso perguntar, aliás, já não é.

Onde devia estar

Só mais um copo de whisky,
Um último cigarro…
Deixa-me estar…
Divago…

Só mais uma música,
Um último balanço…
Deixa-me estar…
-ar…

Vagueio, deambulo,
No escuro do mofo da noite…
Entrelaça-se a luz em abstrato,
Pixéis de pó pairam em vácuo,
Murmúrios abafados arranham as fachadas...
Latidos humanizados,
Percorrem, prolongam-se, alongam-se…
Recolhem, diminuem, encurtam…
No silêncio do espaço.

Perguntas por mim.
Não estou
Onde devia estar…