Hoje, sendo dia do livro, nada
melhor para o comemorar do que ler durante o dia todo.
Emergir na mística global do
livro. Apreciar o cheiro das suas folhas (velhas ou novas, amarelas ou
brancas); apreciar o cheiro da sua tinta, o relevo da sua capa, as marcas
singulares da sua impressão, os seus traços de idade (que nos fazem imaginar as
eras por que passou), ou a imaculada limpeza (característica da sua antestreia).
E, depois de me imbuir de tal mística, depois de me influir nela e me cobrir no
seu suave manto, submergir da realidade pura para a realidade ficcional.
Assim é ler, um bom livro. Para
quem gosta de viajar e tem pouco dinheiro, aconselho. Mesmo assim, ainda sou
apologista de que nada se supera em experiência à viagem real. Apesar disso,
ler ainda é capaz de nos transportar por mundos inimagináveis, viver situações,
seres, locais, que jamais poderíamos experimentar na realidade, ou ousar
experimentar.
Um desses mundos, e sem dúvida
uma das melhores histórias lidas por mim, é um livro escrito por George Orwell,
intitulado “Mil Novecentos e Oitenta e Quatro”.
Claro que simpatizei com ele por
representar o ano do meu nascimento e por ser de Ficção Cientifica. Mesmo
assim, o que mais me fez adorar este livro foi o facto de despertar em mim algo
que nenhum outro livro me levou a experimentar. Reparem, quando termino de ler
um livro, normalmente, ou sinto nostalgia, ou preenchimento, ou insatisfação (perante
um mau final). Neste caso, foi uma junção de nostalgia com desespero. No fim
apenas pensava - “que final dramático, desesperante, espetacular! Não há
escapatória possível!”. Leiam o livro e verão do que estou a falar.
O que mais adoro nos livros de
Ficção Cientifica é a sua capacidade de indagação profunda dos problemas do Ser
Humano, sendo por isso cronologicamente transversais e actuais a qualquer
época. “1984” é um livro escrito em 1948, que se debate com questões sociais
actuais - a diminuição da privacidade devido às tecnologias e a consequente
eliminação da liberdade, aproveitada e perpetuada pelo governo. A sociedade
distópica, criada por George Orwell, é a encarnação máxima da conspiração e da
não liberdade.
Apesar do enredo da história
decorrer num regime totalitário, poderia muito bem decorrer em administração
democrática. Equacionando este pensamento ao brilhante trama da história nasce
uma maravilhosa sensação de desespero ao ler o final. Uma sensação inevitável,
pois esse mesmo é o objectivo do autor. Fazer-nos sentir assim.
Só posso exclamar “fenomenal”!
Assim se fazem e se lêem bons livros!
Esta é a minha forma de saudar o
dia do livro, aconselhando-os um bom livro. Outro a não perder será “O Triunfo
dos Porcos”, do mesmo autor. É uma fábula simplesmente hilariante.
Boas leituras, e feliz dia do
livro.