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Nas ruínas de Babel



sinto os trovões ao longe...
ouço a chuva a cair...
há um vento forte
que me ínsita a seguir...
naquele espaço vazio...
onde não sei existir...

Não é assim tão mau não saber quem sou.

ouço os sinos ao longe...
da tempestade a surgir...
o rufar forte
do meu medo, a cair!...

Não me importa mais não saber quem sou!
Ergo-me na alegria de ver Babel ruir!...

percorre um lufar suave...
pelos destroços do tempo,
pelas ruínas da torre,
se ergue o silêncio do Ego!...

ecoa!... no meu peito!...
a certeza de mim!...
passado!... futuro!...
não pertencem aqui!...

Não me importa mais não saber quem sou!
Ergo-me na alegria de ver Babel ruir!...


Nem a ilusão escapa da ilusão.
É nesta trama, neste paradoxo, nesta antítese, que desliza e flui a realidade.
Tenho a estranha intuição de que tudo se move num estranho “real-ficção”.

Vivo



Enquanto percorro a cidade
Corre o tempo que passa
Passa esta desgraça
De não saber onde estou
Onde vou?...
Onde vou?...

Mas que importa agora
Que o céu seja azul
A cair p’ró laranja
E a noite a chegar
Cheia de estrelas no céu
Quem sou eu ?...
Quem sou eu?...

O que é que isso importa agora?
Basta-me sentir aqui.
E o infinito?...
Será ele assim?

O que é que isso importa agora?
Que o céu não fique quieto
Se eu aquieto por dentro
E tudo fica mais belo

Sem o Medo,
É mais fácil,
Aceitar-me como não sou.
Sem o Medo,
É mais fácil,
Aceitares-te como não és.

Mesmo que o tempo mude
E não mudemos por dentro
Ainda temos o instante
Deste exato momento

E tudo perde valor
E ganha valor de volta
E a vida ri-se de tudo
Quer esteja boa ou torta

Mas o que é que isso importa?
Eu estou aqui
Tu ai estás
Sente, mesmo, que existes
Não somos mera ilusão
A existência é real
E tudo o resto é banal

A liberdade está aqui,
Se este medo sair.
A felicidade está aqui,
Sinto, o medo, a fugir…

Dia do Livro


Hoje, sendo dia do livro, nada melhor para o comemorar do que ler durante o dia todo.

Emergir na mística global do livro. Apreciar o cheiro das suas folhas (velhas ou novas, amarelas ou brancas); apreciar o cheiro da sua tinta, o relevo da sua capa, as marcas singulares da sua impressão, os seus traços de idade (que nos fazem imaginar as eras por que passou), ou a imaculada limpeza (característica da sua antestreia). E, depois de me imbuir de tal mística, depois de me influir nela e me cobrir no seu suave manto, submergir da realidade pura para a realidade ficcional.

Assim é ler, um bom livro. Para quem gosta de viajar e tem pouco dinheiro, aconselho. Mesmo assim, ainda sou apologista de que nada se supera em experiência à viagem real. Apesar disso, ler ainda é capaz de nos transportar por mundos inimagináveis, viver situações, seres, locais, que jamais poderíamos experimentar na realidade, ou ousar experimentar.

Um desses mundos, e sem dúvida uma das melhores histórias lidas por mim, é um livro escrito por George Orwell, intitulado “Mil Novecentos e Oitenta e Quatro”.

Claro que simpatizei com ele por representar o ano do meu nascimento e por ser de Ficção Cientifica. Mesmo assim, o que mais me fez adorar este livro foi o facto de despertar em mim algo que nenhum outro livro me levou a experimentar. Reparem, quando termino de ler um livro, normalmente, ou sinto nostalgia, ou preenchimento, ou insatisfação (perante um mau final). Neste caso, foi uma junção de nostalgia com desespero. No fim apenas pensava - “que final dramático, desesperante, espetacular! Não há escapatória possível!”. Leiam o livro e verão do que estou a falar.

O que mais adoro nos livros de Ficção Cientifica é a sua capacidade de indagação profunda dos problemas do Ser Humano, sendo por isso cronologicamente transversais e actuais a qualquer época. “1984” é um livro escrito em 1948, que se debate com questões sociais actuais - a diminuição da privacidade devido às tecnologias e a consequente eliminação da liberdade, aproveitada e perpetuada pelo governo. A sociedade distópica, criada por George Orwell, é a encarnação máxima da conspiração e da não liberdade.

Apesar do enredo da história decorrer num regime totalitário, poderia muito bem decorrer em administração democrática. Equacionando este pensamento ao brilhante trama da história nasce uma maravilhosa sensação de desespero ao ler o final. Uma sensação inevitável, pois esse mesmo é o objectivo do autor. Fazer-nos sentir assim.

Só posso exclamar “fenomenal”! Assim se fazem e se lêem bons livros!

Esta é a minha forma de saudar o dia do livro, aconselhando-os um bom livro. Outro a não perder será “O Triunfo dos Porcos”, do mesmo autor. É uma fábula simplesmente hilariante.

Boas leituras, e feliz dia do livro.

Mesmo que

Mesmo que,
não sejas uma simples voz, visão, luz,
respondas aos meus rogos,
te faças carne e corpo, à minha frente, concreto e material, existência imortal, de amor em chagas,
toque nessas feridas abertas,
olhe nesses olhos ternos,
te sinta real e eterno,
me invada o carinho que por ti penso,
                                   da razão serei sempre servo.

Se existires não me apareças,
não creio em mim.
E se apareceres saberei que não és.
Porque tudo o que se descobre,
só é sempre uma vaga existência de algo mais,
                                  como a realidade transformada em sonho...


Só assim irás nascer

Cada vez te afundas mais
Sobre esse peso que nem é teu
E o vazio das horas
Bate em segundos na tua cabeça

Tic, tac, tic, tac,
É tua vida a escoar
Tic, tac, tic, tac,
Já te paravas de maçar

Pousa os teus olhos nas minhas palmas
Deixa as lagrimas caírem nelas
Amanha o mundo será maior
E a vertigem do desconhecido
Trará à vida um novo sentido
Dará à vida um novo amor
Para ti, vindo de ti

Há uma esperança a nascer
Mesmo se tudo morrer
Nada irá acabar
Irás ressuscitar
Mesmo se tudo morrer
Há uma esperança a nascer
Deixa, deixa tudo morrer!
Só assim irás nascer.