Lá fora o
sol brilha, cai a chuva, diminuta, como se flutuasse pelo ar.
O arco-íris
desponta por entre o castanho-verde.
Sinuosamente
avança, a estrada cimentada, longamente deitada.
Cerca-a a
floresta, sussurrante, densa.
Tão denso é
o seu verde, tão condensado o seu ar,
difícil será,
dez metros espreitar.
Quem lograr deter-se pela berma,
cuidado ao
espreitar pelas sombras da cerca.
Há primeira
vista nada poderá ver,
a não ser uma figura indistinta, um sentimento a
aparecer.
Algo que lá
não estava
ergue-se do
seu peito
do muro das
árvores distingue-se um corpo desfeito.
Rugoso e
castanho como o tronco que o encerra
seus olhos vítreos
se fixam em quem espera.
Há muito
tempo atrás,
num tempo
sem exactidão,
sem espaço
ou lugar,
sem muita precisão.
Longe de quem
queria,
um homem gemia, gemia.
A morte, a solidão,
o abandono,o desconforto.
Sua mente
desvanecia, sua carne
definhava,
perdera-se o
amor de quem ele
amara.
Ferros em
brasa, agulhas
finas, um punhal
estreito,
pela carne,
pelas veias, pelo peito.
A paixão, a
chaga que da ausência ardia.
Quem?...
Quem?... Já não se conhecia.
Uma folha de
papel amarfanhada,
seguiu, só, pela
estrada.
Dias e dias
caminhou à chuva,
dias e dias
caminhou ao sol,
dia-a-dia,
quem disse que o tempo cura,
dia-a-dia,
perdido em dó.
Doíam-lhe as pernas, os
braços,
os músculos retesos
e amassados,
o peito
tísico, as costas
marrecas, o cansaço…
Decidiu repousar
no frio de uma árvore e adormecer nos meandros do desconhecido.
As estações foram-se,
as luas passaram,
uma silhueta
perdida,
um símbolo
dos que amaram.
Quem parar
naquele lugar
talvez não
se abstraia de sentir o estranho.
Uma sensação
a surgir de um carvalho,
um vislumbre
morto, vago,
inerte,
apático,
apenas
sofrimento estático.
Dele se
exala a podridão,
no entanto, ainda
bate lá um coração.