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Vai ficar tudo bem

Por entre as frinchas de uma selva,
Entrelaça-se um céu fechado,
Para que lado? Para que lado?

Por entre o bafo de uma névoa,
Qual o fim que me espera,
Já não sei onde calco.

Vai ficar tudo bem...

No sol laranja,
Vi a tarde a desaparecer,
Um desejo a desvanecer…

Só mais um pouco,
A olhar o mar,
E o ar, e o ar?...
Onde devia estar?...

Quem deveria ser?...

Vai ficar tudo bem.
Isso eu sei, isso eu sei.
Vai ficar tudo bem.

Vazio

Fumo em cinzentos traços
Sobe, sobe, profundo.
Destaca-se no escuro,
Escoa para o meu mundo.
Espirais nebulosas,
Pelo passo das horas,
De pensamento absurdo.

Mata esta sede

Pára no ar um poema parecido contigo
Cai sobre a terra uma rima encadeada
Leva com ela a tua esperança embrulhada
Nasce um sorriso preso ao ramo de um verso
Cai sobre mim, desperta a força do universo
A gravidade já não me sustenta
Há uma ilusão para além do planeta
Na tua mão, na tua mão…

E eu vou andando por ai
Entre o sonho e a realidade
Misturo todos os meus sentidos
No horizonte talvez te encontre

No fim deste asfalto
Há um buraco que me espera
Se o sol se poe
Cresce um medo que me encerra

Na tua mão a fogueira que ilumina
Nos teus gestos o carinho que me incita

Vem devagar
Faz-me ver e acreditar
Que as tuas chagas são verdadeiras
Estão aqui para me curar

Mata esta sede que sinto no meu eu
Crava um punhal no ego que Deus me deu

Nascer de novo

quero ser como uma criança
correr até adormecer
saltar até me fatigar
rir, rir
sentir, sentir
chorar sem me importar
arrebentar
futuro longo
passado curto
memórias vagas

quero ser ao contrário
brincar de trabalhar
trabalhar de brincar
despojar-me das regras sociais
fazer perguntas despropositadas
inusitadas, inocentes, perdoadas

quero ser, 
pequena, imortal, invencível
e ter vocação de fantasista

deem-me o cálice sagrado
deixem-me beber a água do cordeiro imolado
esqueçam a juventude eterna
só queria, para sempre, viver naquela outra era

vem Nicodemos,
perguntemos, perguntemos…