Arrependo-me sempre!
Transe
como um transe inesperado pontos e virgulas traços quebras elaboradas rodam palavras falsas caem por de entre espaços interiores a pressa insurge-se nos objectos visão dupla fora dentro amém repete a assembleia mulheres virgens homens de pénis em sangue de olhos arregalados brancos revirados unem todas as cores em negros substratos nada se entende tudo é vago artomorfofacto arde-se de desprazer flácido querer em linha continua do nada para o nada de errado a morte é um bom presságio
Profundo
É tão subjectivo como o Ser ser-se.
Porque aquilo que se é
Apenas ao que se é diz respeito.
A profundidade é fútil
Perante a efemeridade da vida
A superficialidade é alavanca.
…
Tudo o que digo é tão básico que nem vale a pena ser lido.
São apenas pensamentos regurgitados a tentar ser algo.
Tento chegar a uma meta, fica tudo por metade incompleto.
…
O que eu quero dizer é que a superficialidade de ideias, sentimentos e
razões não existe. Apenas existe nas coisas materiais para distinção de
espaços, não nas coisas imateriais. Essas serão sempre profundas, porque fazem
parte do Ser.
Não porque o Ser seja sempre insondável, mas porque o Ser deverá ser
sempre inestimável.
Por isso, a maior das superficialidades terá em si a mais insondável das
profundidades, cheia de signos polissémicos.
…
Tudo depende dos olhos de quem nos lê.
Rascunhos
leva-me contigo
para lá
deste muro e
enche-me de
palavras ocas
para eu preenchê-las
de amor
onde moras?
onde é a tua
morada?
faz de mim a
tua casa
deus não
existe
o amor não é
eterno
por isso amemo-nos
enquanto ainda é tempo
que sejas a
palavra certa
no meu mundo
de rascunhos
Toda a vida fui pastor
Toda a vida
fui pastor
Toda a vida
guardei gado.
Tenho uma
nódoa no peito
De me
encostar ao cajado.
De me
encostar ao cajado
De me
encostar ao bordão.
Tenho uma
nódoa no peito
Ao lado do
coração.
Na serra o
que mais se sente
São saudades
do amor.
E o leite é
branco para a gente
Só é negro
para o pastor.
O meu amor é
pastor
É pastor e
guarda ovelhas.
Tem uma
casa na serra
Coberta com
poucas telhas.
(Cantar da Beira Interior)
Cedido pelas senhoras simpáticas do rancho de Videmonte.
Bem haja a elas.
Bem ditas as senhoras por esta canção,
Bem dito seja o tempo,
Bem dito o sufoco de outros,
Que nos preenche o momento.
Pacto
Quedou-se ao
fim da estrada
Num cruzamento
fora do tempo,
Fez uma reza
apressada
Com ela foi
ter o vento.
Por uma
bruma escura
Surge um ser
vermelho,
Seu corpo nu
se insinua
Perguntou-lhe
qual o desejo.
Há em mim uma gula
Por um prazer eterno,
Afasta de mim a chuva,
Leva-me para o teu templo.
Há em mim uma pressa
Por um prazer efémero.
Aproxima-se
dela a Besta,
Sussurra-lhe
em silêncio.
Pega nessa faca, grava o teu nome em sangue,
Deus esta distante, para te poder julgar.
No meu corpo quente se prende a liberdade,
Agarra-me no falo hei de te ensinar a amar.
Do paraíso caído surge o milagre
Que só nas chamas do inferno hás de
encontrar.
Deuses
sinto os Deuses bem perto,
procuram sangue,
sinto o seu cheiro,
buscam morte,
para em si voltar poderem-me.
Existe uma coisa engraçada quando se caminha sozinho. Para além de todas as coisas que passam por nós, a cada passo que damos é como se nos aproximássemos de mais um pensamento.
Não importa se esse pensamento é definido, ou indefinido, o
que interessa é essa aproximação.
É como se as ideias, ou os pensamentos, estivessem à espera,
naquele lugar. Parados em frente a uma porta, numa passadeira, por cima de uma
tampa de esgoto, num cruzamento, numa esquina.
Quem sabe talvez não seja verdade. Pensamentos parados, à
espera de serem intersectados, de se infiltrarem em nós, naquele lugar, naquele
buraco por onde podem emergir.
Tu, que caminhas com o mesmo intuito que eu, segue os
pensamentos que te levarão a mim. Deixa surgir a ideia que se chama amor.
Paradoxo
o paradoxo embrenha-se
no costume da realidade
e "quem sou eu" deixa de ser
a ser seja "quem sou"
ilude-me o pensamento
cada vez que penso em mim
sinto-me real
mas apenas penso sentir-me assim
pergunta o eu que é o eu
quem sou quem sou
sou a questão sobre a questão
sobre a questão sobre a questão
se assim não fosse
se me conhecesse inteiramente
pararia mumificado no tempo
numa eterna ausência de movimento
o costume
embrenha-se pela realidade
o eu não existe
e existo apenas
neste paradoxo que nasce
no costume da realidade
e "quem sou eu" deixa de ser
a ser seja "quem sou"
ilude-me o pensamento
cada vez que penso em mim
sinto-me real
mas apenas penso sentir-me assim
pergunta o eu que é o eu
quem sou quem sou
sou a questão sobre a questão
sobre a questão sobre a questão
se assim não fosse
se me conhecesse inteiramente
pararia mumificado no tempo
numa eterna ausência de movimento
o costume
embrenha-se pela realidade
o eu não existe
e existo apenas
neste paradoxo que nasce
A Hora Enxuta
Olhai o campo que a chuva cerca,
Abafa o
pranto que se liberta.
O pó do ar
na terra cai,
Surge o céu
limpo da alvorada,
O sol da
tarde as gentes curva,
Chegar vem a
hora enxuta.
Gastos,
cansados, anoitam rústicos,
Tabernas
cheias, bagaços brutos,
Mulheres e
homens fazem-se à vida,
Ásperos
modos, surge a alegria.
Duro de roer
é este mundo,
Coisa pouca
dura, pouca coisa fica.
De onde vens
tu meu amor!
Mais um dia
de labor!
Esta enxada
que a terra cava
Há de
descansar em fim um dia
E tuas mãos
tão calejadas
Hei de curar
com beijos todos os dias.
Murmura a
ceara a montes fora,
Ilumina de
oiro a nossa hora.
De onde vens
tu meu amor!
Mais um dia
de labor!
Porque que
amas tu amor!
Dancemos ao
som do tambor!
Entranhas
Ó Emoção, querer
que me faz querer!
Te invoco,
do fundo do meu âmago,
Por de entre
o estômago e o peito,
Por de entre
o umbigo,
As entranhas
fervendo,
Exalam um
vapor aguacento…
Sobe ao chão!
Desce à merda! Cai no céu! Ergue a ideia!
És mais do
que eu possa querer!
Em exacta
medida do meu suportar.
Hei de te
arrancar!
Homem-árvore
Lá fora o
sol brilha, cai a chuva, diminuta, como se flutuasse pelo ar.
O arco-íris
desponta por entre o castanho-verde.
Sinuosamente
avança, a estrada cimentada, longamente deitada.
Cerca-a a
floresta, sussurrante, densa.
Tão denso é
o seu verde, tão condensado o seu ar,
difícil será,
dez metros espreitar.
Quem lograr deter-se pela berma,
cuidado ao
espreitar pelas sombras da cerca.
Há primeira
vista nada poderá ver,
a não ser uma figura indistinta, um sentimento a
aparecer.
Algo que lá
não estava
ergue-se do
seu peito
do muro das
árvores distingue-se um corpo desfeito.
Rugoso e
castanho como o tronco que o encerra
seus olhos vítreos
se fixam em quem espera.
Há muito
tempo atrás,
num tempo
sem exactidão,
sem espaço
ou lugar,
sem muita precisão.
Longe de quem
queria,
um homem gemia, gemia.
A morte, a solidão,
o abandono,o desconforto.
Sua mente
desvanecia, sua carne
definhava,
perdera-se o
amor de quem ele
amara.
Ferros em
brasa, agulhas
finas, um punhal
estreito,
pela carne,
pelas veias, pelo peito.
A paixão, a
chaga que da ausência ardia.
Quem?...
Quem?... Já não se conhecia.
Uma folha de
papel amarfanhada,
seguiu, só, pela
estrada.
Dias e dias
caminhou à chuva,
dias e dias
caminhou ao sol,
dia-a-dia,
quem disse que o tempo cura,
dia-a-dia,
perdido em dó.
Doíam-lhe as pernas, os
braços,
os músculos retesos
e amassados,
o peito
tísico, as costas
marrecas, o cansaço…
Decidiu repousar
no frio de uma árvore e adormecer nos meandros do desconhecido.
As estações foram-se,
as luas passaram,
uma silhueta
perdida,
um símbolo
dos que amaram.
Quem parar
naquele lugar
talvez não
se abstraia de sentir o estranho.
Uma sensação
a surgir de um carvalho,
um vislumbre
morto, vago,
inerte,
apático,
apenas
sofrimento estático.
Dele se
exala a podridão,
no entanto, ainda
bate lá um coração.
Aliás, o tempo não se move. O que
se move são as coisas. O tempo será apenas a variação espacial destas.
Sendo assim, intuo que as coisas
se movam muito mais lentamente do que aquilo que percepcionámos.
Porquê? Não sei. Apenas intuo, e
por isso, iludo-me. O movimento é real, é físico, é perceptível aqui e agora.
Mas a velocidade…hum…se for apenas uma mera percepção será apenas um a ilusão?
Podem as coisas existir estáticas?
Desisti
“Um
homem não está acabado quando enfrenta a derrota. Ele está acabado quando
desiste.”
Richard Nixon
“Muitas
das falhas da vida acontecem quando as pessoas não percebem o quão perto estão
quando desistem.”
Thomas Edison
“Conserve
os olhos fixos num ideal sublime, e lute sempre pelo que deseja, pois só os
fracos desistem e só quem luta é digno de vida.”
Desconhecido
“Mesmo
desacreditado e ignorado por todos, não posso desistir, pois para mim, vencer é
nunca desistir.”
Albert Einstein
"A desistência é uma revelação."
Lispector , Clarice
Quem é o dono da
razão?
Ousarás me julgar
Só por parecer que
fiquei em vão?
Agarrar esta coragem,
De não ser quem quero
ser,
Adiantará seguir
viagem,
Se no inicio
enlouquecer?
Um passo atrás,
E estou mais perto de
mim.
Só por desistir,
Não quer dizer que seja o fim.
“Dificil
não é lutar por aquilo que se quer, e sim desistir daquilo que se mais ama.
Eu desisti. Mas não pense que foi por não ter coragem de lutar, e sim por
não ter mais condições de sofrer.”
Bob Marley
“Desisti
de ser feliz. Agora me sinto muito menos infeliz.”
Micítaus do ISSÁS
Melancolia positiva
Tudo para
uma perfeita manhã de melancolia positiva. A chuva desce pelas paredes da
avenida e tudo se torna cinza. Os vapores condensam-se, no ar, nas superfícies,
nos cheiros. Deve existir um blue
qualquer que descreva esta sensação, maravilhosa.
- CHUVA! CHUVA!
O BARULHO AGUADO DO MOVIMENTO DOS CARROS! - penso eu…
Há um ritmo
de cowboy em tudo isto!
Tanta gente
a passar. Têm cara de quem não pensa em nada. Isso significa que pensarão
certamente - que se fodam os outros -
seguem caminho… sempre seguindo caminho... sem nada na mente.
Fumo um
cigarro. Alguém chora atrás de mim. E eu penso numa rima.
Faz frio. O mundo é duro.
Abraça-me neste calor seguro.
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